FB Instagram
Adoção x Gestação

Adoção x Gestação

Por Mari F. Povoa

Já sabemos que adoção não é caridade, mas um ato voluntário de formar uma família. A pessoa ou o casal não adota no “susto” ou “sem querer” ou “sem planejar”, aqui existe decisão e espera, as vezes muita espera.

Gestação, vem do latim gestatio.onis, e como bem sabemos ocorre quando um óvulo é fecundado por um espermatozoide. Todos temos a mesma origem, mas nem sempre o mesmo destino: uma família que ama, cuida e ampara.

Para adotar uma criança é necessário que ela tenha sido gestada por outra mulher e por inúmeros motivos nos quais não vamos discutir agora, essa mulher, o genitor ou sua família, não pode ficar com seu filho (não importando a idade da criança) e ele é colocado para adoção.

Quando um casal ou uma pessoa decide pela adoção, ela passa por seis etapas, são elas:

1.    Decisão pela adoção;

2.    Entrada no processo de habilitação junto ao sistema judiciário;

3.    Habilitação

4.    Chegada da criança (geralmente chamado de período de aproximação);

5.    Guarda Provisória;

6.    Guarda definitiva.

Analisando por esse lado, então como seria a “gestação” de quem opta pela adoção?

Simples, a etapa 1 e 2, são aqueles preparativos que todo casal que decide ter um filho faz para concebê-lo: idas ao médico, organiza a vida até o momento em que dizem: “Agora vamos tentar para valer! ” A pessoa ou o casal que opta pela adoção faz esses mesmos preparativos, mas de outra forma: por meio de um processo judicial que envolve a apresentação de diversos documentos, relatórios médicos, visitas das assistentes sociais e psicólogos da Vara da infância, curso de preparação para adoção e só então eles recebem a tão esperada Habilitação!

Podemos dizer que quando o casal recebe a habilitação aqui foi o momento da concepção do seu filho (não importando a idade escolhida), é quando o “exame dá positivo”. Mas aqui também está algo que difere de uma gestação natural: A espera. Numa gestação natural a espera é de até 40 semanas podendo ter seus imprevistos, ser antecipada mas existe sempre um prazo para terminar, no caso da adoção existe o dia da concepção, mas não existe o dia em que essa espera terá um fim.

Na “gravidez” por adoção pode ocorrer do pretendente assim que habilitado já receber seu filho em poucos dias, mas esses casos são raríssimos, haja vista que para isso ocorrer se faz necessário que não tenha restrição nenhuma no perfil da criança, então assim que o pretendente a adoção é habilitado, logo já recebe seu filho, pois o perfil de crianças com doenças graves, deficiências físicas ou mentais são raramente escolhidas pelos pretendentes, grupos de irmãos muito menos. A maior parte dos pretendentes restringi o perfil para bebês, pele branca, sem doenças pré-existentes e nem sempre aceitam grupos de irmãos, isso torna essa “gestação” mais longa podendo chegar até dez anos.

Outro fator que diferencia uma gestação natural da gestação por adoção é exatamente o que ocorre durante o tempo de espera. Na gestação natural a barriga está ali crescendo, você faz acompanhamento médico, ultrassom e acompanha todo o desenvolvimento do seu filho. Na adoção, é uma gravidez invisível, não existe barriga, não existe ultrassom, não existe exames, existe apenas o vazio da espera e quando essa habilitação é partilhada com amigos e familiares as vezes se torna mais angustiante, visto que os pretendentes sempre são surpreendidos com perguntas do tipo: “Como está o processo? ” “Quando seu filho vai chegar? ” “Demora muito ainda? ” São perguntas das quais eles não tem resposta e torna a ansiedade maior, torna a espera mais angustiante.

Mas um dia essa criança vai nascer para esse pretendente e é quando acontece aquele momento mágico e tão esperado: O telefone toca! Ah, agora é hora de festa, a “bolsa estourou”, vamos para a “maternidade” buscar o nosso filho. Esse é o momento do período de aproximação, aqui nasce não apenas um filho, mas um pai, uma mãe. Porém esse nascimento é diferente, ficamos um período com a guarda provisória, na qual a criança carrega o sobrenome dos genitores e não podemos alterar, na escola, no médico ou em outros espaços geridos pela lei. Passado esse período sem intercorrências obtemos a guarda definitiva e aí sim, é aqui, que podemos finalmente dizer: Meu filho nasceu!

E quando esse filho nasce, acontece exatamente como na gravidez natural, a mulher se esquece da dor do parto e muitas vezes deseja passar novamente por essa “dor”. Quando nosso filho nasce pela adoção, nos esquecemos da dor da espera e muitas vezes, repetimos todo o processo para termos mais um filho, onde nosso coração possa transbordar de amor.

Gravidez natural ou “gravidez” por adoção tem suas particularidades, mas quando o filho finalmente nasce, não existe diferença, visto que a partir desse momento, nasce um pai, uma mãe e um filho e todos vão aprender juntos a enfrentar desafios, superar problemas e o principal: irão aprender juntos a ser família.